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quinta-feira, 26 de julho de 2012

Verte-se o horizonte aqui


O horizonte tomou escuro, o futuro
Resplandecendo as luzes por agora
Retirando o turvo, o obscuro
Após a noite transcendendo alguma aurora.

Acolhendo em abandono, não triste

O seu peito ensurdecendo a voz
Abordando um verso antigo, em riste
de pasma virtude, algoz.
Um tédio colosso, piongo, esmo...
Um mundo musgo, visto inverso, velho...Vesgo.
Esperando uma mescla recordação, meses
Frutos frustrando na estação.

No sol-espírito donde aqui se vê,

Ouve-se o coro de querubins a espairecer.
Ludibriando amargas esperas
Invadindo juntos celestes esferas
Como o céu, que canta um infinito, o Pégaso
o ocaso, eclipse, saudade, grito, raso.

E os atrozes medos vorazes

vão perdendo o segredo aturdido.
Como voos velozes das aves
que cantam em terno alarido
O orgulho que encara a sensação
e engasga a tremenda exortação.
Outrora os sonhos haverão de ressurgir
como o tal horizonte que se verte por aqui.




domingo, 8 de julho de 2012

Oxigênio


Não conseguia entender o que você sussurrava, eram só murmúrios. Eram ruídos que esmagavam nuvens e movimentos de luz. Nos olhares eu podia ver mais. O êxtase permaneceu e ofusca os sonhos em que te compreendo às divindades. E o castigo supremo subtraía o cortejo. A liberdade cheia e encolhida. Que me arrancava sorrisos. Ainda habitas algum ser. À bela arte, a pele, a face. Feita de lã. Surgia onde ninguém a via. Afastava indecisões e invadia prostração. Balbuciaste em mim nossa oração, e diferentemente, sem dor, sem culpa, sem desespero. Deste-me a aurora e caí em vedação. Mas quando dei-te as costas, em aniquilamento, sem fulgor, o tomento me acenou. Abriu-se o pavor de ser só eu. Perdi o aroma das flores que em ti era ar puro. Fiquei numa estrada deserta, sem sentido, sentindo. Olhando algum horizonte, só.

sábado, 23 de junho de 2012

Flores murcham


Vim exalando o impuro, as tuas gotas de orvalho poderiam fazer reviver.
Dentre as outras flores a mais bela e viçosa sorri aos seus.
O jardim em que nasci já não flori mais.
Ora a rosa que nunca brotou esmaga a flor que a observa debaixo de todas as outras plantas.
Poderia ela saber que sem o advento haveria de decair... Saber que murcharia...
(...) haveria!


Daqui dá para enxergar, daí dá  para entender que é hora de partir. Nem imagino se aí doerá, pensei demais, fico machucando este ser que já padece há anos. Sonhos foram destruídos, verdades esmagadas por fingimentos, forçados, inverdade no real dói, mas verdades irreais doem bem mais.
Ah! O tempo é que vai cuidar de tudo, no mais a gente aguenta. Mas olha... Se você já conseguia ver por que se fez na cegueira?
Pensei bastante em continuar, em ainda aguentar e chorar, até fixei na mente pensamentos positivos, mas usei desenganos que iria evocar e desaparecer. É como forçar o olhar e, na alma, no mais sincero nada enxergar, puxar o ar de onde mais se afaga e não respirar. Como se estivesse remando contra a maré, a chover, trovejar, tentar viver ou morrer, afogar. 

 O pior foi ao encontrar os corpos, no sonho, deteriorados, já estava tudo perdido, ali, em nossa perdição.
Agora me diz como manter os pés no chão?
É possível ver outros caminhos, mas a indecisão, a dor, a inquietação, o amor, o rancor não me deixam caminhar. Quem dera se só o desejar fosse necessário. Querer ver o invisível é a minha luta, ver, tocar, sentir já não tanto satisfaz. Procurar a liberdade de falar e de ouvir apenas ao máximo expressar.
Mas a vida reserva dessas, vou seguindo, mas saiba ainda que estou no ápice da tolerância e que é difícil pra mim, quer segurar a minha barra ou é pesado pra você?
Esqueço por lapso que também tens teu peso, e pode até ser maior que o meu. Continuo perdida, não sei mais por onde nadar, sem fôlego, cansada ao extremo, tu nem me imaginas morta, por hipocrisia, porque é em mim o fim, está em ti o cadáver. Mas toma cuidado! A carne é podre e o espírito irá junto, te guiar, e mesmo depois de morta contigo estarei, talvez melhor, não causarei impacto em tua vida.
Te isento de culpa, sei como martiriza, por isso me fui em tua contribuição generosa de indiferença, bom é me ver sofrer e fingir sofrer também para que eu me sinta ao menos um pouco igual.
O quebra-cabeça é complicado demais, não sou eu quem encontrará as peças certas, já tens montador, bom mentor, velho apoio de longos anos que para muito serviu.
Mas, percebes que o tempo se torna, agora, pouco?
É o que a ironia não deixa de servir... Concentrada nas lembranças do que não se passou.
É o medo... Banalizaram minha falta de fé. Descrenças e doenças. Só peço permissão à percepção da partida, ao penar de todos os dias na esperança do que não vem, esperar os próximos enxertos para o sangue não jorrar, o que já está contido quer transbordar, não te preocupe pois tratarei de estancar, de conter, após a morte, morrer, sem sangrar.

domingo, 10 de junho de 2012

Vamos comigo até o final?


Percebe-se que alguma coisa mudou, mas também que pela mudança muito faz doer. Indiferença. Inconsciência. Insensibilidade. Perda da confiança, das piores atrocidades que o ser humano pode cometer. Mas o que pode ser pior para se sentir, conscientemente são, do que a culpa?
Pois bem, é turbulento. Inevitável.
Fazemo-nos surdos, cegos e loucos, talvez amenize o que se sente.
Iremos até onde for possível, passaremos por obstáculos inimagináveis, para no fim descobrirmos ser insuficiente. Destino já traçado não tem dó de quem o alcança.
Abandono de si, falta de amor, martírio interior, o que encontras em tudo isso? Nada, não é mesmo? Ainda assim, continuas.
Não te farás insolente diante dos ultimatos impostos, te farás duro e mesmo inefável. Obedece teus donos, de fato, sendo tu será bem pior, mas contarias com a coragem.
Haverá de ter esquecido o destino... Lembra-te quando estiver já em fado, na “felicidade”, se existir, que destinos não vêm prontos, nós o fazemos, tu o fizeste.
O pensamento está a mil, não é? Queres saber do que se trata, não?
Sim, é o que pensas! Agora pensas mais, pare um instante e me imagine a questionar-te:
- Criatura, o que queres da vida? Quem és tu inteiramente?
Torno a dizer-te que nada sabes do que és, e digo-te também que eu não fugiria nem renunciaria a mim, pois todos um dia procurarão a si mesmo. E não menos tu, pois ciente estás do que se passa aí por dentro.
Nem remorso e nem paz me instigam por agora, mas a falta e o correspondente inalcançável.
De imediato, ainda não sabes o que debruço a teu pensar, mas o que pedir do que não daria? O que sentir do que sentiria?
Estou a fazer-te perguntas em demasia? Agonizo teu ser?
Não chega a tanto, não? Nem se fosse...
(...) ora pois, uma quase confissão, não te surpreenda, já não é de surpreender o que quase sempre é nunca com o nada que o ronda em tudo. E não aches complicado o que te implica no real, na realidade tuas fantasias são bem mais complexas, e sendo, aprecia-as no mais.
Achas, por agora, teus pensamentos perturbadamente agonizantes?
Não, intrigantes seria bem melhor empregado em teu contexto pensante.
Esperas que as palavras bem aqui te sejam mais explícitas, saiba que não o farei, sabes bem do que trato, por prelúdio, não finjas nem a mim e nem a ti. Peço que ao término releia, e procures entender pelo que achas ser, garantia de melhor entendimento.
Como te envolvi a ler até aqui? Não sei.
Não agonizarei tua consciência, jamais faria isso (e descubro por tentar), não faria em ti o que me faço, embora mereças por me levar (trazer) ao ponto de escrever tal (des) envoltura. Por fim, credes.
Aqui já estás, porém torno a querer saber, senão este, irias comigo até outro fim?





quarta-feira, 6 de junho de 2012

Ter(ido) (c)sem sentido(s)

Vou-me assim!
Sei que muito tu sabes.
E que muito também o sei.
Mas o pouco o resta a nada
Em tudo o que apaguei.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Vai pelo cais fora




Vai pelo cais fora um bulício de chegada próxima,Começam chegando os primitivos da espera,
Já ao longe o paquete de África se avoluma e esclarece.
Vim aqui para não esperar ninguém,
Para ver os outros esperar,
Para ser os outros todos a esperar,
Para ser a esperança de todos os outros.
Trago um grande cansaço de ser tanta coisa.
Chegam os retardatários do princípio,
E de repente impaciento-me de esperar, de existir, de ser,
Vou-me embora brusco e notável ao porteiro que me fita muito mas rapidamente.
Regresso à cidade como à liberdade.
Vale a pena sentir para ao menos deixar de sentir.

terça-feira, 22 de maio de 2012



(de) vagar


Mesmo apressado é como se o tempo estivesse pingando esfumaçantemente. À medida que as horas correm pareço estacionar, lembranças correm a mente cansada. Parar e esperar tem me feito mal. Criar força e lutar tem me tornado idiota, tem me tornado insana e impassiva. Louca. Depressiva. Eu já não sei o que esperar. O que há de vir me tortura como o que já se foi, como o que já não volta e o que pode voltar. Sabendo que a todo instante o querer fará seguir, o poder fará regredir, a fé fará acreditar que tudo passa e que há o que te fortalecerá. Até acontecer o que te alentará? Sobreviverás até lá?

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Entenda!



Entre sorrisos e mais sorrisos a angústia toma lugar em cada canto da boca, difícil é saber onde estamos, saber se deve ou não sentir, saber que tem que partir de tudo e de todos.
Isolar-se tonar-se o melhor plano, estar machucado demais e não querer machucar quem ama. Fazer com que as pessoas entendam que não precisam de você e que você já pode ir embora, pode deixar-se ir sem remorso, sem culpa, sem dor.  O pior dos sentimentos estapeado na cara de quem quiser ver: rancor. O que te destrói todos os dias, mesmo que você não queira. Entender que você nada significa e para nada serve a não ser ferir quem mais ama. Assim perder a capacidade de amar e poucos restarem dentro de você e para quem se deve explicação. Pedir perdão e não ser perdoado. Ter consciência de que o ser medíocre que se é não é digno de tão sublime perdão, porque ninguém foi capaz de te perdoar, e você nunca foi capaz de pedir perdão. Nada mais podes pedir para si, tudo a perder. Ter é sinônimo de perder.

sábado, 5 de maio de 2012

Sinta, engula e... Acredite?


Colocamo-nos todas objeções, desfrutamo-nos amargamente de tentações, e ainda assim acreditamos, é como se o verbo proferisse em seu absurdo a nossa deficiência de fé.

Temportúnio

                 
Ninguém sentiu quando chegou à mim um suspiro, quando parecia-me o fim em meio aos destroços de mim, do que pude salvar do que parecia não restar. O tempo podia ter me feito enxergar, a tontura ainda me embriaga o senso de vida, as veredas me impunham um seguimento de morte. Ainda continuo por aqui, esperando atravessar o silêncio, sentindo o ódio feroz como lobo faminto, descendo as vestes da pureza, louca desvairada numa ventania sinistra, inflamando meu sangue e acorrentando-me na espera de algum tempo.

Infame

               
Havia o sol no rosto, escorria, queimava... Por dentro chovia forte, e seus cabelos embebidos lhe emoldurava o rosto.
Se caísse a sombra à sua imagem, saberia também que haveria de soltá-la, seu canto nem ecoa ao longe, a quietude, a extensão, montes aos montes, relento, aperto no peito, cheia de vazio. Dentro do sol sua sombra a protegia, água n'alma, se esvaía. Vai sofrer ainda todo instante que falta, vai morrer todos os dias e conceber-se à desgraça de viver em si, obrigar-se a ir, suportar-se vir. Consumia sua miséria, volta o silêncio à tua Senhora ou à teu Senhor, reverencia-lhe, dá suas entranhas para machucar e penetrar-lhe o sopro maligno da tua escuridão, trava-lhe em trevas, para todo o sempre, devotas À Ti mesma tua pouca fé, teu prazer morto, tua velha ferida. Contenta-te com tua infâmia, em teu ventre criastes o cadáver ulceroso de cicatrizes, arrastarás fria a teu Inferno, quente a teu Céu. Lamentações tuas, infame, infecundas o teu insólito destino, ao léu das ondas de teu sangue em brasa. Choras tua inquietude e teu martírio diante de teu Senhor, e pedes tua salvação. Condenada serás. Crucifica-te duma vez, e rendes teu espírito. Sobre teu peito atearás fogo, soluças tua ânsia, revoltas tua angústia, piras de ardor os teus pés. Desesperas. Pedes a teu Senhor que desfaça todo mal, que desperte de teu ventre o oriundo de teu choro, que arranque de ti os devaneios, que sedenta-lhes o peito de correntes amargas da branquidão, soca-lhe de afagos espinhosos. Prega-te de ti mesmo, e afoga-lhes teu pranto, insignificante, estéril e movediço.

Lembranças

                  
Quando estou reestruturando minha vida, repensando o passado que me fez mal, focando um futuro possível e sem males, recebo um surpresa não tão agradável, que me fez o irreparável, mas me ensinou bens incalculáveis. Me pôs na vida que eu deveria ter, me fez sentir o que há muito deveria sentir, arrancou-me em tanto os pudores, me fez rever velhas dores, me desencargou dessa vida, me pôs numa chegada sem partida, me disse muito sem ao menos tocar os lábios. Num olhar preciso que não preciso sobre mim, pensamentos que sonhei em terem fim, sentimentos que pensei estar... Enfim! Os pesadelos eu pensei só sonhar mal, eram apenas aquilo, o que dói, o não-real.

sábado, 28 de abril de 2012

Anjo? Quem sabe...


Quisera eu, anjo, que você pudesse realmente me proteger, logo eu que nem acreditava em anjos. Quisera eu que você pudesse me alcançar e dizer o que preciso ouvir. Talvez eu seja imatura demais, ou então nem saiba o que esteja dizendo, ou saiba demais.
Quisera eu, que como Ismália, as asas ruflassem de par em par. Tenho procurado motivos para continuar, pudesse você me proteger e quisera eu sentir-me protegida. Quisera eu, não ter que crescer mais para ter que encarar tanta verdade, foi tudo tão precoce que eu tenho aquele medo de que possa acabar, mesmo não sabendo se é bom ou ruim, nem sei o que devo sentir, a responsabilidade comigo mesma, meu escudo enfraqueceu e as asas já não alçam voo, por isso te pergunto se daqui posso saltar, porque ao contrário do que dizes sei bem  que lá não terá que me segurar e que sempre estarei sozinha. Comecei tão cedo a voar (ou tentar) contra a parede que acredite, as forças enfraqueceram ao ponto de não conseguir mais.
Quisera eu ser realmente um anjo, quisera eu ter realmente um anjo. Quisera eu poder proteger alguém, descobriria-me então pouco inútil, ou, ao menos querer e poder ter proteção.

Arrependimento


Sabe, eu estive pensando muito bem, nem sei porque te conto minhas centelhas, mas é que às vezes preciso de um amigo, de um ombro. Não acho justo o que fazes, me pisar desta forma não vai te ajudar em nada. Tenho tido pesadelos, sempre estás presente. Eu gostaria de dizer que não preciso de você, mas não dá. Nunca imaginei tua importância em mim, mesmo sendo como és, o tempo passa tão rápido que eu nem me dei conta de que não estavas mais, talvez porque em meu interior já estavas como punhal. Volte quando puder, tua ausência me causa um vazio sem tamanho. Não sei onde estás, me manda um sinal, porque tua luz é o que me significa, sabes bem, estive sem luz por esse longo tempo.
Vez ou outra sinto falta do que poderia ter sido e não foi, sinto sua falta, depois me arrependo do que fiz e não do que deixei de fazer. Fostes boa parte de mim, pior que continuas sendo, mesmo quando a pureza nos servia. Tentou abrir meus olhos para o mundo mas eu quem os abri pra você. Quando me vem as sensações lembro de que não pudesses me machucar mais. Saudade é um martírio e quando é assim, quando a dor é intensa assim, até mesmo quando é bom senti-la, para provar o quanto fraca sou e que era para ser bem pior e foi.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Seu eu


No meu princípio só havia dia, no meu fim, só há noite. Andava roubando sonhos, não dormia, bocejava pesadelos, não ouvia a chuva, não a sentia me molhar, não a via riscar vidraças e arranhar asfaltos.
Não lembro o que me passava pela cabeça, se é que eu pensava. Em meus devaneios, atravessei incontáveis noites, repousei imperceptíveis dias e meu único alento era o travesseiro. Muitas vezes passei a noite em claro, num escuro que cegava. Contava lágrimas que caíam lentamente. Acontecia... Acontecia constantemente, numa frequência perturbadora.
Como se fosse hoje, lembro que tudo começava, de novo, e eu, esperançosa de que iria de fato esquecer, e estava esquecendo, você me veio e novamente me calou.
Sempre me dizendo que lições deveria lhe dar, que amor deveria amar, sofrimento que deveria sofrer. Te pedi que se afastasse, que nos meus olhos não mais olhasse, que em minha fraqueza não fracassasse. Na angústia estrépita que eu te sentia, uma amargura árdua estremecia. Nunca soube e nem podia, só tentava resistir, desistir.Superava teus encantos, mas quando já estavas partindo uma voz indecisa pedia pra ficar.
Éramos somente nós, o meu erro foi te retorcer num nó, nó de engano, na mentira do caráter inexistente, num medo que chorava, nas lembranças de um tempo bom que me sorria, de noite, de dia.
No teu espetáculo lamentável de um silencioso sentimento, tivesse platéia para a minha desgraça, eu nunca quis te dizer nunca e quando tentei, recolhesse todos os demônios e todas as tentações me perderam. Subimos nos mais elevados degraus, em passos chocados de tuas pisadas que estremeciam no carpete junto aos teus gritos esporádicos. E então, em momentos assim, engolia toda dor, como desencanto de amor que me punia severamente o profundo.
O inatingível sentimento gritado para o infinito que sempre existiu entre nós. E você, depois dos teus surtos superciliosos, me sangravam, perfuravam todas as veias e desse sangue lavava-me em lágrimas.
Não tenho certeza de quem foste, de quem és, nem se ainda vives nesse mundo só seu, de personagens momentâneos, em que apenas tu, artista, é o centro. Não me coube, não mais me caberá, pois daquele mal que um dia me matou em nós dois, saiba que se ainda não o fez, um dia te matará. Eu, ainda hoje, venho me arrastando sem vã coragem, coragem essa que nunca tive, disfarçava-se na vontade do meu órgão inquieto.
Reneguei inúmeras vezes o teu veneno letal, envenenei-me também diversas, em lápide. Se me viesses agora, já não estaria à tua espera, teu túmulo em mim está vazio, e foi só o que restou, um vazio. O teu corpo e alma (se é que tivesses) ninguém nunca viu.
De toda lembrança que deixo no papel intuindo esquecer de lembrar, do meu soprano em êxtase engasgado, tenho o miserável azar de ter que me abandonar depois que te abandonei, ter que me odiar depois que te odiei, em consequência te amar sendo que nunca me amei e naquela morte definhar já que nessa vida definhei.

Caminhando...


Continuo caminhando... Sozinha. Tem sido longa essa caminhada.
Eu sei que meus pés estão machucados levo comigo uma trajetória de quedas, e minha cabeça dói com o peso que carrega.
Sabe, eu nunca tive medo de fantasmas, de monstros ou de qualquer outra coisa ou fenômeno que me parecesse surreal. Mas nunca tive tanto medo como hoje, mais que antes , ou tanta repulsa de mim que sempre pensei me aceitar. Nem sei se consigo.
Os passos estão lentos, estou tremendo de frio, a respiração está curta, talvez eu precisasse de uma traqueostomia na alma. Mesmo que eu não queira, por favor, caminhe comigo, não quero te cansar mais, só como companhia, não mais que isso, porque talvez eu não aguente. Não estou pedindo para que me alente, não me entenda mal, só caminhe acompanhando meus passos ou se for lento demais pra você, apenas caminhe, tento te acompanhar, pra quem sabe um dia eu poder te alcançar e dizer que por sua causa cheguei. Cansada, mas cheguei, ouvidos surdos, boca silenciada, olhar para o nada pois os olhos já não enxergam, pulmão sem ofegância, coração parado, cheguei, morta mas cheguei.
Como eu gostaria de te dizer... Consciência, que já não és martirizada, que és livre!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012




No fim das contas, tem algumas coisas que você apenas não consegue não falar. Algumas coisas nós não queremos ouvir, e outras coisas que falamos por não conseguirmos mais nos silenciar. Algumas coisas são mais do que você diz, elas são o que você faz. Algumas coisas você diz porque não tem outra escolha. Algumas coisas você guarda só pra si. E, não muito frequentemente, mas de vez em quando, algumas coisas simplesmente falam por elas mesmas .


Julieta é uma idiota, pra começar,ela se apaixona pelo cara errado, que ela nao pode ter,então ela culpa o destino pela sua própria decisão errada.O amor assim como a vida é uma questão de tomar decisões.E o destino não tem nada haver com isso.Todos acham que é tão romântico, Romeu e Julieta,amor verdadeiro,que triste.Se julieta foi burra o suficiente pra se apaixonar pelo inimigo,beber uma garrafa de veneno e ir dormir num mausoléu,ela mereceu o que teve!Talvez Romeu e Julieta estavam marcados pra ficarem juntos,mais só por um tempo então o tempo deles passou.Se eles pudessem saber antes, talvez tudo ficaria bem.Se quando você crescer, e tiver o destino em suas mãos não deixar nenhum cara te arrastar pra baixo, você será sortuda por ter esse tipo de paixão por alguém, se vc tiver ficaram felizes juntos pra sempre.O amor é uma questão de escolhas,é questão de tirar o próprio veneno e a adaga e fazer o próprio final feliz ,na maioria das vezes.Mesmo assim as vezes o destino sempre vence .

Não importa quanto tentemos ignorar ou negar, eventualmente as mentiras caem por terra, querendo ou não. Mas essa é a verdade sobre a verdade: ela machuca. Então nós mentimos.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Durante toda minha vida estive à beira do precipício, onde pulo e pulo. Nunca houve alguém que pudesse me dar a mão, nunca houve em quem pensar quando estivesse caindo. A queda é sempre dolorosa, e depois de tanto sentir, só resta a dormência. Mas o que há lá embaixo que nunca vejo, e sempre ao chegar sou puxada para cima? Não sei o que me levanta, mas sei muito bem o que me faz cair.
Caminhar sozinho não é tão ruim o quanto parece, mas talvez sintamos falta de algo ao olharmos para os lados e só enxergar deserto. Estar pronta para pular e não poder se agarrar quando o arrependimento vier. É como se a mão que empurra fosse a mesma que ampara e não deixa machucar ao cair, porque quando se chega lá, não se sabe o que há de fazer com o todo, daí volto a me certificar do que deixei, e não a dor que se sente ao voltar e ver que não sou capaz de abandonar mesmo sabendo que é preciso perder para poder se encontrar.

Silente

É possível olhar para o escuro e enxergar bem mais que a escuridão, é preciso que enxerguem o que há, só preciso que vejam, não que sintam, é meu, eu me encarrego de sentir, mas não impossível de ver mesmo que não se mostre nítido.

Saber o que é estar dentro de um baú fechado e sentir algo se desfazer, desmanchar onde não deve ser desmanchado. Doer tudo se tornou necessário. Sinto e sinto cada sopro, culpa por estar sensível a cada passo e palavra dita. Quando os ventos sopram mais fortes e os ruídos soam, sobrevoa as nuvens negras e aqui, bem no fundo, chove. O silêncio ainda habita, não sei até onde ele pode dizer. Desculpo-me por sentir tanta culpa, mas que poso fazer? Sinto muito, não dá para não ser.

Sob os tremores dos lábios crucificados, água ulcerada de flores leprosas, vapores fétidos exalam a podridão do ato, femme sem medo. Luz sem lampejo. Em seus olhares vertiginosos, sem direção, olho a olho. Afagos, suspiros, gritos estridentes, martirizados na maldição, mas que a profecia refletia a náuseas.

Como num campo minado, exala pólvora na vastidão do deserto do desespero. Uma serenidade necessária da noite pálida de lamentações brota dos olhos que paralisam de tamanha introspecção. Exaspero e contemplação, lágrima em abandono, ausência, esquecimento, sangue e inquietação. Virgem da aurora, vozes condenadas, nervos mortos, peito sem aceleração. Coração parado, partida. Perdão.

© da estante
Maira Gall