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terça-feira, 12 de abril de 2011

Escura Escuridão (você)

Escuta, silêncio, escuro, turvo, anoitecer
O teu suspiro, é noite, é macabra.
Um sopro de vida, tudo-nada. Espaço no tempo ocupado por coisa alguma.
Coisa preta, lagamar incaico, obscuro, laçado à nenhuma. Preta flamejante.
Flacidez imperceptível. Pachorra.

Flor do Campo

Desconfio de ti, florista linda
que descobrisse a receita
da beleza imaculada, da pele macia
que intensamente deleita.

Essa escultura em flor do campo
Desce a noite na alvorada do dia
Flamejante beleza e desejo
E teu suspiro me diria.

Que és a flor que faltava
no meu buquê de alegria
Tua volúpia flamejava
O inconsumível eu teria

Florista linda, a flor mais bela
A faísca dos olhos, é chama
Cabelo macio e molhado
que a sacolejar me derrama.

Um líquido doce e salgado,
florista linda eu te aceito,
do jeitinho que tu és.
Assim tão bela e tão pura

Cheia de amor e ternura
parte de mim que em ti se fez
Partindo à um passo de amargura
Minha maravilha? Talvez.

Manuel Bandeira

A vida assim nos afeiçoa
Se fosse dor tudo na vida,
Seria a morte o grande bem.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Habituée

De repente fez-se assim.
De um amarelo sorriso tridental eu vi.
Em tudo que cabe no poema, já não cabe aos olhos de quem vê.
Tenência aos lábios de quem lê. Observáveis laços da mente pura , chama.
De repente fez-se assim.
De ter que criar mil coisas num poema sarcástico, criar impulsão imediata, cérebro impaciente de elástico em farpas, seria mais fácil, assim, eu poderia pensar essas mil coisas de uma só vez, e se eu pensasse mil e uma, talvez não lembrasse os instantes como não lembro agora, e como não pensar.
Hegemonia do poema vicioso, agonia num presságio tenebroso.
Foi de repente, que tudo fez-se assim, em ti, em mim.
© da estante
Maira Gall