" 2011 / da estante

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Cedência... O pranto que deságua no mar...

Meus pés sentem o chão ceder, meu coração a cada batida faz sinal que quer saltar do que o prende.
Lágrimas de sangue escorrem a cada fresta. Será a tinta que me envolve?
Rasga-me a sensação de todo sofrimento, toda solidão, todo desespero numa oração.
Toda agonia repelindo...
Há algo fora do comum, do que é aceitável, em mim criado constantemente num ritmo angustiante.
Clareia-me a visão do que é finito e distante. E, esse "eu" não compreende, não se contenta em ouvir apenas o que soa errante, consequência do que trago amargo, indefinidamente.
Aos versos eu canto a confidência pelo que tenho me afirmado, isolado por estranha e leve essência que enleia o meu choro derramado.
Estive pronto para ser ensaiado, como cântico composto e não cantado.
Tenho aqui um engasgo, entalado, do que em mim soa longe, inacabado.




Ando tocando estrelas....
Muitas vezes trago em mim um cansaço que há nelas, de ter que brilhar sempre,
sempre para esconder a escuridão, destacar-se na imensidão e toda dor,
toda devoção, fica assim, esconsa, sem razão.
Sinto-a tão perto, mas...
Há uma estrela bem lá no alto.
Eu não consigo alcançar.
Tem um brilho forte, tão bela, única, sublime, brilha só, bem lá no alto.
Ah, como eu a desejo... Desejo tanto tocar!
Trazê-la comigo e apenas poder no seu brilho brilhar.
Poder juntar-me a ela, à distância, há nela a inconstância da areia do mar.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Nada espero...


Dessa espera de que me alimento
Num desalinho me alinhei num vento
Vento esse que me levou de mim
E continuo vazia, esvaziando assim
Todo espaço cheio, de amarguras, de dissabores
E desses devaneios que não curam meus pudores

Nessas esperas cruas que já não espero de mim
esperando uma chegada para acabá-la num fim
Fim de ardor crescente que aumenta a cada efeito
Efeitos dos sentimentos que ainda trago no peito
que me afagam, me sustentam, sem orgulho, sem amor
Apenas levo comigo o outro "eu" se me guardou
aos desesperos dos sonhos, ao que restou.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Ela III

E o olhar amedrontado se curva.
E a boca indecisa cicia lentamente.
Algo está por vir com um desfalecimento contínuo e longo.
E os movimentos calculados e sentidos por cada suspiro, padecem.
Ela paralisa.
Num espaço claro, num espaço de dentro, esquecido pelo de fora.
Grita seu desespero, o som dilui na distancia, nas alturas.
Como um pássaro que voa até onde aguenta voar.
Que canta até onde seu canto ecoar.

Senta-se à beira de seu caminho.
Ela, ama, alma, clama, calma.
Caminha lentamente sob sua nuvem de lágrimas, à espera dum silêncio que lhe responda, mas há murmúrios incessantes, pesados, cansados, gelados.
Se sente, sente.
Seu sangue escorrendo em toda fresta, em cada pulsação, pintou-se por inteiro.
Já não se sabe quem é, confundiram-na.
Numa cratera de si, cheiro de carne crua que, cai, se recolhe, quer morrer, quer viver, quer ser um nada, anseia uma última palavra.
Prostrou-se na terra, olhou para o céu.
Brotou uma semente de esperança. Ainda há?
Não haverá drama.
Poderá revelar-se em chiados, em impulsos ruidosos. Jorrando na extensão.
Pousou adoração.
Teve algo em que segurar, sustentar.
Ergueu-se, exalando beleza. Ainda há, sim, uma maravilha nela, atônita, inconsciente, louca, crescente e bela.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011


Ela olhou-a fixamente, com um adeus nos olhos, nenhuma lágrima, aperto no peito, nó na garganta, trêmulas, corpos distantes, sentimentos que se tocavam. Lágrimas de sangue brotaram dos olhos de ambas, nenhuma palavra, inesgotável suor, sucessão rítmica de desespero.
Abruptamente se afasta, se distancia, caminhando lentamente, nem olha para trás.
Enquanto a outra, sem fala, enxuga seu rosto avermelhado e caminha, caminha em outra direção... Olha para o lado e já não vê (talvez porque não quisesse) a sua, já não mais sua, ou nunca tenha sido sua, embora ela achasse que tivera. Nenhum manifesto. Nenhum aceno.
Apenas uma dor, uma dor incessante.

domingo, 28 de agosto de 2011

Tentando me levar

Pesada de angústias, de medos, me levo.
A cada dia regredindo, vou tentando prescindir meu choro, tentando caber em mim, me ter.
Tentando me aceitar assim, tentando entender os encontros e desencontros de mim. Tentando entender por que os bons morrem jovens... Tentando...
(...) Descendo de mim profundo e esporadicamente, mágoas em lágrima, sangrando sutilmente no silêncio brando.
Dentro de mim um vácuo, os órgãos dilacerados, desejos incertos e segredos esquecidos.
Tentando conversar comigo, num espelho imaginário descendente de algum devaneio disperso aqui.
Estou absurdamente perturbada com essa voz misteriosa que canta para os versos. Essa voz insana e latejante, vibrante e impassível.

Com a ternura e o desassossego de saber de mim, lembro do olhar aconchegante que me aparece. Penso na mentira agoniante que há esconsa.
Vejo, como em água límpida, o quão insaciável é minha sede respostas. Perguntas me rondam todo tempo. Perfeição e defeitos que sondam.
São os castigos pelos crimes que cometi, a caixa de pandora que abri.
Pelo medo que tornei de me tornar. Por me acender a escuridão veio trovar, culpas, culpas, culpas a me culpar.
Nesse verso que pretendo terminar, espero um presente que o futuro quer passar.

domingo, 8 de maio de 2011

Arte poética - FG


Não quero morrer não quero
apodrecer no poema
que o cadáver de minhas tardes
não venha feder em tua manhã feliz
e o lume
que tua boca acenda acaso das palavras
- ainda que nascido da morte -
some-se aos outros fogos do dia
aos barulhos da casa e da avenida
no presente veloz
Nada que se pareça
a pássaro empalhado, múmia
de flor

terça-feira, 12 de abril de 2011

Escura Escuridão (você)

Escuta, silêncio, escuro, turvo, anoitecer
O teu suspiro, é noite, é macabra.
Um sopro de vida, tudo-nada. Espaço no tempo ocupado por coisa alguma.
Coisa preta, lagamar incaico, obscuro, laçado à nenhuma. Preta flamejante.
Flacidez imperceptível. Pachorra.

Flor do Campo

Desconfio de ti, florista linda
que descobrisse a receita
da beleza imaculada, da pele macia
que intensamente deleita.

Essa escultura em flor do campo
Desce a noite na alvorada do dia
Flamejante beleza e desejo
E teu suspiro me diria.

Que és a flor que faltava
no meu buquê de alegria
Tua volúpia flamejava
O inconsumível eu teria

Florista linda, a flor mais bela
A faísca dos olhos, é chama
Cabelo macio e molhado
que a sacolejar me derrama.

Um líquido doce e salgado,
florista linda eu te aceito,
do jeitinho que tu és.
Assim tão bela e tão pura

Cheia de amor e ternura
parte de mim que em ti se fez
Partindo à um passo de amargura
Minha maravilha? Talvez.

Manuel Bandeira

A vida assim nos afeiçoa
Se fosse dor tudo na vida,
Seria a morte o grande bem.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Habituée

De repente fez-se assim.
De um amarelo sorriso tridental eu vi.
Em tudo que cabe no poema, já não cabe aos olhos de quem vê.
Tenência aos lábios de quem lê. Observáveis laços da mente pura , chama.
De repente fez-se assim.
De ter que criar mil coisas num poema sarcástico, criar impulsão imediata, cérebro impaciente de elástico em farpas, seria mais fácil, assim, eu poderia pensar essas mil coisas de uma só vez, e se eu pensasse mil e uma, talvez não lembrasse os instantes como não lembro agora, e como não pensar.
Hegemonia do poema vicioso, agonia num presságio tenebroso.
Foi de repente, que tudo fez-se assim, em ti, em mim.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Sutileza aos olhos

Delicadeza é a palavra
Tem os olhos envolventes por natureza
na pureza a essência da beleza.

Lapidada ilusão do querer
como esmeralda aos olhos,
imagino a magia de você.

Perfuma que exala luz da manhã,
alvorada do prazer que te rodeia,
desejo de sentir e possuir sensações.
O elixir puro que corteja.

O próprio feitiço que a armadilha almeja.
Enroscar nesse jogo sedutor.
Ser tomado ao feitiço do amor.
Num faz de conta protetor.

"Eus" venerados

Ruas vazias? Pés calçados de angústia!

E de repente, tudo se enche se acende, e transcende, de lá para mim. Ventos uivam, nessas noites que venero, nessas madrugadas penumbras que espero há anos luz daqui onde estou e seja qual for o lugar que eu esteja, melhor será se não estiver em lugar nenhum.

Entender pra quê? Se tudo é tão mais difícil do que eu escrevo sem querer, porém no impulso de querendo, será mais fácil do que escrever forçosamente.

Peso que peso.

A existência pesa. Os mares dentro de nós revoltos estão.
As lágrimas pesam dentro d’alma, d’água.
E a dor ao te ver passar por mim e tão longe estar sempre.
É a dor da perda incalculável, perda essa que não se preenche.
Todos os ventos estão vindo em minha direção, estou na decadência de mim, está me possuindo, consumindo.
Essas unhas vermelhas e vivas revelam um ser morto, em cor, em dor, em amor.
Os passos são contados, por medo de mim, esbugalho os olhos para me enxergar melhor e ultrapasso as lentes. Não há nada frente ao espelho, não há sombra ao verso da luz, fluoresce, incandesce e nada há de turvo, de alma de calma. A lágrima cai, mas ainda sinto uma vermelhidão à chegar, e quem sabe as garras felinas não ajudam a colorir, a esculpir.
A minha complexidade reluz, a minha autenticidade nem me seduz, esse jeito desprovido de papas na língua, que é o jeito escolástico de ser. Talvez, tudo emudeça e volte simplesmente a “ser”, mas, não como era antes.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Frenesi forsforescente

E eu, consumo lentamente num corriqueiro imanente, roendo o osso sagrado, atacando reciprocamente. A corrosão é feita, química agente do meio ambiente. Depravação dissimulada, alusão de teia rasgada, arranha a aranha na teia por debaixo da escada, ultrapassamos as paredes, deitamos em redes, com túnicas verdes; Afundamos no assoalho, com o mínimo descaro, sem pudor sem amparo. Almas sem espaço, famintas, claro-escuro, batemos num muro, cacofonia diz, furo.
Sem uivar, sem urgir, não dá mais. O fotolito daqui, já não imprime nem comprime, suor com suor, osso com osso, pele com pele, carne com carne, da coberta acolchoada repelir, e um outro belo ato incansável repetir.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

abaçanado

Ta rasgando, consumindo, devorando, diluindo, vorazmente, de ti, louca, complexos, pura, crua esquizofrenia, analogia. Por cima da calda, infâmia. Cada 03:15 da madrugada, um surto. Pesadelos tão reais. Loucuras incondicionais. Um indigente torto. E eu nem usaria esse termo, ermo. Insinuoso e sádico. Se afasta e vai e volta, e fica, e aterroriza, e de hacanéia. Buscando uma muzuna, um pobre de osso marroquino. Num fim dançava. Ganhou uma moeda. Enlouquecia de alegria, que de tanta morria, ali, de agonia de si.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Essa monotonia incansável

Aqui dentro é primavera, mas não existe céu azul, nem verde, nem arco-íris. Aqui fora é inverno e é outono, tudo esfria de vez e as folhas vão ao chão como se arrancadas e jogadas. E num espaço em que o sol está abaixo do horizonte. Na borda das minhas pálpebras está uma "coisa" cansada. Sem ritmo, para dançar um samba-canção. Só danço em meio a uma vozearia profana, pandorgas miseráveis que não se calam. Eu já nem sei... Sabe?

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Esquetes...

Agora, aqui neste lugar, sinto que o que passou foi vão, todo sofrimento, toda solidão, diante do que está guardado em mim. E, se as brigas foram esquecidas, as marcas, os gritos ainda não. E, se tudo isso que passamos, for para mostrar o que ganhamos, que seja para mostrar o que perdemos e, assim, que mostre um ponto, um fim.
© da estante
Maira Gall