" Ela III / da estante

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Ela III

E o olhar amedrontado se curva.
E a boca indecisa cicia lentamente.
Algo está por vir com um desfalecimento contínuo e longo.
E os movimentos calculados e sentidos por cada suspiro, padecem.
Ela paralisa.
Num espaço claro, num espaço de dentro, esquecido pelo de fora.
Grita seu desespero, o som dilui na distancia, nas alturas.
Como um pássaro que voa até onde aguenta voar.
Que canta até onde seu canto ecoar.

Senta-se à beira de seu caminho.
Ela, ama, alma, clama, calma.
Caminha lentamente sob sua nuvem de lágrimas, à espera dum silêncio que lhe responda, mas há murmúrios incessantes, pesados, cansados, gelados.
Se sente, sente.
Seu sangue escorrendo em toda fresta, em cada pulsação, pintou-se por inteiro.
Já não se sabe quem é, confundiram-na.
Numa cratera de si, cheiro de carne crua que, cai, se recolhe, quer morrer, quer viver, quer ser um nada, anseia uma última palavra.
Prostrou-se na terra, olhou para o céu.
Brotou uma semente de esperança. Ainda há?
Não haverá drama.
Poderá revelar-se em chiados, em impulsos ruidosos. Jorrando na extensão.
Pousou adoração.
Teve algo em que segurar, sustentar.
Ergueu-se, exalando beleza. Ainda há, sim, uma maravilha nela, atônita, inconsciente, louca, crescente e bela.

2 comentários

  1. É preciso que descubramos a beleza... que ela está em toda a parte!

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  2. Não... não neguei!
    Antes pelo contrário... adorei!

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