" 1º - não namore uma escritora / da estante

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

1º - não namore uma escritora

Já li diversos textos curtos sobre os porquês de não ser tão indicado namorar uma escritora. Concordo com alguns, discordo de outros. Mas ei de apreender os pontos que encontro em comum. 

Não, namorar alguém que escreve não é uma tarefa fácil, e irei contar-lhe o(s) porquê(s). É importante que você saiba que se não for capaz de compreender um coração sensível, certamente não faz jus a ele. Entenda, ser sensível não implica em ser frágil. Uma escritora sabe bem das cargas que leva por dentro e não há nada que a faz mais forte do que suas dores e alegrias. Se você não consegue compreender que sua necessidade de estar sozinha, seja com uma caneta e um papel ou um teclado onde possa descarregar sua sensibilidade, se não for esperto para saber separar seus momentos e tentar decodificá-los (ela não vai ceder tão fácil, por mais que ela goste de você), você não me parece suficiente para namorar uma escritora. 
Se você não desenvolver uma capacidade peculiar de ler seus pensamentos e interpretar um gesto ou um trecho de uma crônica ou um poema, sinto dizer, mas você não pode namorar uma escritora. Aquele texto melancólico não é pra ser achado graça ou ser facilmente entendível ("ah, isso está relacionado ao que aconteceu há 3 minutos?"). É rude perguntar se o texto é sobre você. 
Se você não se importar em ter uma frase, um verso, um parágrafo, uma crônica, um conto ou um poema inspirados em você ou nos trejeitos seus, não seria avessa a acreditar que você possa namorar uma escritora. Mas nunca, nunca mesmo, pergunte se é sobre você. Os pensamentos de alguém que escreve não giram ao seu redor, por mais que você esteja ocupando um lugar especial em sua vida. Entenda que todas as pessoas ocupam lugares especiais porque são todos distintos, tanto as pessoas do passado quanto as que estão e virão. Então, da mesma forma que o texto pode ser sobre você, ele também é sobre nuances do dia, sobre o velhinho sentado na calçada da igreja, a menina que pediu um doce quando viu que você tinha dois, sobre o gato que decidiu adotar depois de muita relutância pela falta de tempo, sobre a falta de tempo que não a deixa escrever o quanto quer, sobre a música de alguma cantora de fado que ouviu semana passada e sobre várias e várias razões possíveis que se têm para escrever. Então, não, não é apenas sobre você. Mas se for, ela não vai te dizer. 
Ela precisa de solidão. Toda alma carregada precisa descarregar e se você entender isso, irá deixá-la estar em paz com o sossego que merece e necessita. Não é que ela não goste de sua companhia, mas ela precisa estar em companhia de si mesma e você precisa respeitar isso porque ela respeita sua necessidade de estar sempre em contato, por mais que ela não seja assim. Ela aprende a ser assim por você, anula a vontade de estar em paz consigo para atender aos anseios seus, então o mínimo que você pode fazer é entender que acima de suas necessidades há alguém para além de si desejando sentir afundo o que se está a sentir, mas em silêncio. 
Ela não é louca, é única. Ela não é calada (você já deve ter percebido que ela pode falar por horas sobre todos os assuntos, até sobre futebol americano - que ela nem conhece - porque ela é tão desenvolta que a conversa flui), é observadora. Ela sempre está te analisando, é inevitável, e se você não puder entender isso, não a namore.
Ela marcará sua vida de todas as formas possíveis. E ela pode até fi(n)car. Será que você pode?



continua.

Um comentário

  1. para quem é desafiador, D'Gleyse, esses são motivos para SE namorar uma escritora.

    que saudade que eu estava de você.
    passe lá no blog que adorarei tê-la me lendo por lá.

    abraço, luva e meia.

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