" junho 2012 / da estante

sábado, 23 de junho de 2012

Flores murcham


Vim exalando o impuro, as tuas gotas de orvalho poderiam fazer reviver.
Dentre as outras flores a mais bela e viçosa sorri aos seus.
O jardim em que nasci já não flori mais.
Ora a rosa que nunca brotou esmaga a flor que a observa debaixo de todas as outras plantas.
Poderia ela saber que sem o advento haveria de decair... Saber que murcharia...
(...) haveria!


Daqui dá para enxergar, daí dá  para entender que é hora de partir. Nem imagino se aí doerá, pensei demais, fico machucando este ser que já padece há anos. Sonhos foram destruídos, verdades esmagadas por fingimentos, forçados, inverdade no real dói, mas verdades irreais doem bem mais.
Ah! O tempo é que vai cuidar de tudo, no mais a gente aguenta. Mas olha... Se você já conseguia ver por que se fez na cegueira?
Pensei bastante em continuar, em ainda aguentar e chorar, até fixei na mente pensamentos positivos, mas usei desenganos que iria evocar e desaparecer. É como forçar o olhar e, na alma, no mais sincero nada enxergar, puxar o ar de onde mais se afaga e não respirar. Como se estivesse remando contra a maré, a chover, trovejar, tentar viver ou morrer, afogar. 

 O pior foi ao encontrar os corpos, no sonho, deteriorados, já estava tudo perdido, ali, em nossa perdição.
Agora me diz como manter os pés no chão?
É possível ver outros caminhos, mas a indecisão, a dor, a inquietação, o amor, o rancor não me deixam caminhar. Quem dera se só o desejar fosse necessário. Querer ver o invisível é a minha luta, ver, tocar, sentir já não tanto satisfaz. Procurar a liberdade de falar e de ouvir apenas ao máximo expressar.
Mas a vida reserva dessas, vou seguindo, mas saiba ainda que estou no ápice da tolerância e que é difícil pra mim, quer segurar a minha barra ou é pesado pra você?
Esqueço por lapso que também tens teu peso, e pode até ser maior que o meu. Continuo perdida, não sei mais por onde nadar, sem fôlego, cansada ao extremo, tu nem me imaginas morta, por hipocrisia, porque é em mim o fim, está em ti o cadáver. Mas toma cuidado! A carne é podre e o espírito irá junto, te guiar, e mesmo depois de morta contigo estarei, talvez melhor, não causarei impacto em tua vida.
Te isento de culpa, sei como martiriza, por isso me fui em tua contribuição generosa de indiferença, bom é me ver sofrer e fingir sofrer também para que eu me sinta ao menos um pouco igual.
O quebra-cabeça é complicado demais, não sou eu quem encontrará as peças certas, já tens montador, bom mentor, velho apoio de longos anos que para muito serviu.
Mas, percebes que o tempo se torna, agora, pouco?
É o que a ironia não deixa de servir... Concentrada nas lembranças do que não se passou.
É o medo... Banalizaram minha falta de fé. Descrenças e doenças. Só peço permissão à percepção da partida, ao penar de todos os dias na esperança do que não vem, esperar os próximos enxertos para o sangue não jorrar, o que já está contido quer transbordar, não te preocupe pois tratarei de estancar, de conter, após a morte, morrer, sem sangrar.

domingo, 10 de junho de 2012

Vamos comigo até o final?


Percebe-se que alguma coisa mudou, mas também que pela mudança muito faz doer. Indiferença. Inconsciência. Insensibilidade. Perda da confiança, das piores atrocidades que o ser humano pode cometer. Mas o que pode ser pior para se sentir, conscientemente são, do que a culpa?
Pois bem, é turbulento. Inevitável.
Fazemo-nos surdos, cegos e loucos, talvez amenize o que se sente.
Iremos até onde for possível, passaremos por obstáculos inimagináveis, para no fim descobrirmos ser insuficiente. Destino já traçado não tem dó de quem o alcança.
Abandono de si, falta de amor, martírio interior, o que encontras em tudo isso? Nada, não é mesmo? Ainda assim, continuas.
Não te farás insolente diante dos ultimatos impostos, te farás duro e mesmo inefável. Obedece teus donos, de fato, sendo tu será bem pior, mas contarias com a coragem.
Haverá de ter esquecido o destino... Lembra-te quando estiver já em fado, na “felicidade”, se existir, que destinos não vêm prontos, nós o fazemos, tu o fizeste.
O pensamento está a mil, não é? Queres saber do que se trata, não?
Sim, é o que pensas! Agora pensas mais, pare um instante e me imagine a questionar-te:
- Criatura, o que queres da vida? Quem és tu inteiramente?
Torno a dizer-te que nada sabes do que és, e digo-te também que eu não fugiria nem renunciaria a mim, pois todos um dia procurarão a si mesmo. E não menos tu, pois ciente estás do que se passa aí por dentro.
Nem remorso e nem paz me instigam por agora, mas a falta e o correspondente inalcançável.
De imediato, ainda não sabes o que debruço a teu pensar, mas o que pedir do que não daria? O que sentir do que sentiria?
Estou a fazer-te perguntas em demasia? Agonizo teu ser?
Não chega a tanto, não? Nem se fosse...
(...) ora pois, uma quase confissão, não te surpreenda, já não é de surpreender o que quase sempre é nunca com o nada que o ronda em tudo. E não aches complicado o que te implica no real, na realidade tuas fantasias são bem mais complexas, e sendo, aprecia-as no mais.
Achas, por agora, teus pensamentos perturbadamente agonizantes?
Não, intrigantes seria bem melhor empregado em teu contexto pensante.
Esperas que as palavras bem aqui te sejam mais explícitas, saiba que não o farei, sabes bem do que trato, por prelúdio, não finjas nem a mim e nem a ti. Peço que ao término releia, e procures entender pelo que achas ser, garantia de melhor entendimento.
Como te envolvi a ler até aqui? Não sei.
Não agonizarei tua consciência, jamais faria isso (e descubro por tentar), não faria em ti o que me faço, embora mereças por me levar (trazer) ao ponto de escrever tal (des) envoltura. Por fim, credes.
Aqui já estás, porém torno a querer saber, senão este, irias comigo até outro fim?





quarta-feira, 6 de junho de 2012

Ter(ido) (c)sem sentido(s)

Vou-me assim!
Sei que muito tu sabes.
E que muito também o sei.
Mas o pouco o resta a nada
Em tudo o que apaguei.

© da estante
Maira Gall