" outubro 2011 / da estante

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Nada espero...


Dessa espera de que me alimento
Num desalinho me alinhei num vento
Vento esse que me levou de mim
E continuo vazia, esvaziando assim
Todo espaço cheio, de amarguras, de dissabores
E desses devaneios que não curam meus pudores

Nessas esperas cruas que já não espero de mim
esperando uma chegada para acabá-la num fim
Fim de ardor crescente que aumenta a cada efeito
Efeitos dos sentimentos que ainda trago no peito
que me afagam, me sustentam, sem orgulho, sem amor
Apenas levo comigo o outro "eu" se me guardou
aos desesperos dos sonhos, ao que restou.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Ela III

E o olhar amedrontado se curva.
E a boca indecisa cicia lentamente.
Algo está por vir com um desfalecimento contínuo e longo.
E os movimentos calculados e sentidos por cada suspiro, padecem.
Ela paralisa.
Num espaço claro, num espaço de dentro, esquecido pelo de fora.
Grita seu desespero, o som dilui na distancia, nas alturas.
Como um pássaro que voa até onde aguenta voar.
Que canta até onde seu canto ecoar.

Senta-se à beira de seu caminho.
Ela, ama, alma, clama, calma.
Caminha lentamente sob sua nuvem de lágrimas, à espera dum silêncio que lhe responda, mas há murmúrios incessantes, pesados, cansados, gelados.
Se sente, sente.
Seu sangue escorrendo em toda fresta, em cada pulsação, pintou-se por inteiro.
Já não se sabe quem é, confundiram-na.
Numa cratera de si, cheiro de carne crua que, cai, se recolhe, quer morrer, quer viver, quer ser um nada, anseia uma última palavra.
Prostrou-se na terra, olhou para o céu.
Brotou uma semente de esperança. Ainda há?
Não haverá drama.
Poderá revelar-se em chiados, em impulsos ruidosos. Jorrando na extensão.
Pousou adoração.
Teve algo em que segurar, sustentar.
Ergueu-se, exalando beleza. Ainda há, sim, uma maravilha nela, atônita, inconsciente, louca, crescente e bela.
© da estante
Maira Gall