" dezembro 2019 / da estante

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

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De toda lembrança que deixo no papel
intuindo esquecer de lembrar
do meu soprano em êxtase engasgado
tenho o miserável azar
de ter que te abadonar
depois que me abandonei
de ter que me odiar
depois que te odiei
em consequência, te amar
sendo que nunca me amei
e naquela morte definhar
já que nessa vida definhei.

Tarde aprendi a gozar
da juventude
que me veio tão crua
que me veio tão sem métrica.

Cedo conheci a inocência
que me foi tão depressa
que se foi tão dispersa.
© da estante
Maira Gall