" quem, talvez, seja eu. / da estante

quarta-feira, 26 de julho de 2017

quem, talvez, seja eu.

Intempestiva.
Tentei escrever um texto de introdução sobre quem sou eu. Esses textos de praxe para compor uma descrição qualquer no blog. Percebo o quão difícil essa atividade se torna.
Mas é bom começar pelo começo, como se diz, e o início é onde eu quiser. 

Dá pra dizer, e disso e apenas disso tenho certeza, de que se trata de uma multiplicidade - múltiplas mulheres, múltiplas meninas, múltiplas pessoas -, e não pretendo me submeter a qualquer crítica externa além desta intrínseca de que me alimento.
A capacidade de escrever muito me ajuda, como também atrapalha. Hoje, particularmente, não consegui parar de ouvir Killing Me Softly, na voz de Sinatra, e me encontro melodiosa e melancolicamente em distopia sobre o que se passa ao meu redor. Um eufemismo dizer melancólico alguém que escreve melancolia desde os oito anos de idade. 

Jamais saio desse estado de melancolia sobre a vida, sob a morte dos dias que me carregam instantes a dentro. Martírios internos, tormentos e dores passadas, presentes e futuras, não necessariamente nessa ordem, permeiam a existência que dizem minha. Não estou certa de que exalo sensatez e preciso me assegurar de que nunca terei essa certeza, uma vez que não me apetece a imutabilidade que ela traz. 



Decerto sou mutável e tento ser aqui o mais sincera possível. Mesmo com a canção que não consigo parar de ouvir ao fundo, tento ouvir meus pensamentos numa nitidez em que possa registrar e escrever ao mesmo tempo. Uma corrida inútil, eu sei. Manhãs, tardes e noites passam raspando em mim. Sinto, de leve, os raspões de vida que querem entrar nas frestas que ainda tenho. Mas é certo que as janelas fechadas durante os temporais que se fazem em mim não me permitem sentir muito mais do que o gosto metálico que me vem à boca quando a pele sangra mais do que suporto perder de mim, no pouco de vida que carrego pra sobreviver. 

Nem sei onde quero chegar escrevendo isso aqui e nem se chegarei a lugar algum.


Não tenho um poema preferido, nem uma música, nem uma comida, nem...
Não consigo imaginar que possa haver uma preferência a algo ou alguém quando há centenas de milhares de possibilidades de tudo ao mesmo tempo e sempre. A não ser que eu prefira agora Sinatra à Roberta Flack cantando a mesma canção. Talvez eu prefira Chet Baker logo após, tocando e cantando Almost Blue, em certeiros 8 minutos e depois disso preferirei a voz Milton ou o toque pesado dos dedos de Tom ao piano. 
Não tenho mais amigo imaginário. Uma tia me disse que tive. Não me recordo, então não posso afirmar alguma verdade por trás disso. Não é uma ciência de foguetes, afinal, mas se aproxima. 

Gostaria mesmo de poder dizer com clareza um pouco sobre mim. De fato não é fácil manter uma conversa saudável por muito tempo comigo, compreendo. Nem eu consigo, e quase sempre me calo. Narciso não entenderia.  
Quando mais nova achei que nascera na época errada. Ainda acho. Mentira. Mas certamente me encontro num estado de espírito (o que é isso?) ainda mais velho, não diria maduro. 

Sinto a energia do mundo muito forte, poderia dizer que corre em minhas veias e gera curto-circuitos em minha cabeça, mas é uma das consequências para quem quer apreender o todo como um todo sem partes. Holisticamente falando. Não aprecio algo em especial (embora a música me fascine incrível e absurdamente, de tal modo que, por muito tempo, só conseguia sobreviver um dia em completude se ouvisse pelo menos uma introdução qualquer, num "qualquer" não tão eclético), mas de tudo um pouco, numa sede infindável pelo todo que me cerca. E um cansaço infinito por tudo também. 

A vida social pacata exige uma imaginação tão fértil que não faça fazer a louca de uma vez e sumir por aí pregando estacas nos peitos das minhas multifaces e as enfiando em buracos cavados por mim. 

Não compreendo metade do que estou escrevendo, e compreendo pouco ou quase nada dos dias. Os pensamentos voam na velocidade da luz e a luz da vida efusiva me cega sempre que abro os olhos. Tudo que me cerca me faz querer manter os olhos fechados e sentir apenas a batida do meu coração, numa meditação chula e desprovida de aprofundamento espiritual, apenas pelo prazer de estar a sós comigo e as batidas do coração que habita - órgão tão falado e maculado por falsos e poetas. E quem sou eu para falar de falsos poetas? Ora, também o sou. Por isso mesmo. 

Alguém que não suporta mais assistir qualquer programa de tv e que ainda mantém certo vício em séries e filmes, novos ou antigos, desde que me façam sentir algo quando desafogadamente sinto nada. Preciso sentir! Necessariamente com exclamação. 


Por enquanto, trago isso e só. 
Trarei mais. Trarei mais. 
Logo mais.

Um comentário

  1. D'gleyse!

    Como fiquei feliz ao ver teu comentário em meu blog. Que bom que não nos perdemos neste infernal emaranhado cibernético, né? Vou ficar esperando tua visita diuturna. Se não der, tua visita oportuna. Se não der, tua visita redentora. Abração.

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